sábado, 29 de dezembro de 2012

Peixe esquisito a boiar no mar dos Açores!


·         …Um peixe esquisito foi apanhado no canal entre flores e corvo (…) a boiar por volta das 11h da manhã!

·         … Foi encontrado ali junto ao Castelete do Calhau, Faial, no fim de Julho, na costa, um peixe que não faço ideia o que seja!

 

 

Argyropelecus hemigymnus

Fotografia cedida por Gilberto Machado

O que é estranho neste peixe? Será o nome pelo qual é conhecido? Será a morfologia fora do vulgar do peixe? Será ter dado à costa a boiar?

Realmente nada neste peixe é vulgar.

Este peixe é conhecido por pai-velho, peixe-machado ou peixe-machadinha, com o nome cientifico Argyropelecus hemigymnus, e Argyropelecus aculeatus pequeno predador (3-4 cm)  da profundidade que durante a noite sobe mais à superfície para se alimentar, regressando de dia ao seu habitat natural entre os 250 a 600 m de profundidade.

Realmente o nome vulgar de peixe-machado ou peixe-machadinha entende-se pela fisionomia do mesmo uma vez que a sua forma e a cor prateada lembra um pequeno machado. Quanto ou nome pai-velho há um notório esforço criativo da parte de quem o batizou com este nome.

Dado ser um peixe de profundidade, tem órgãos luminosos na zona da barriga que emite luz para se camuflar de outros predadores da profundidade (visto de baixo a luz que emite pela barriga confunde-se com a luz que vem da superfície). Os olhos são grandes, e posicionados na parte dianteira da cabeça, permitindo-lhe uma melhor visão estereoscópica e caçar as suas presas, em ambientes onde a luz escasseia. Dado ser um predador, tem uma boca bastante desenvolvida e dentes afiados capazes de aprisionar as suas vítimas.

Estes peixes vivem em águas profundas mas por vezes são transportados para águas mais superficiais, talvez por correntes fortes criadas pelos montes submarinos e encostas das ilhas. A sua bexiga-natatória expande e impede que voltem para as profundidades a que estão adaptados. Chegam à superfície moribundos, com a bexiga-natatória expandida (bucho de fora) e ficam de lado. Dado serem prateados (refletindo a luz do sol) acabam por ser presas fáceis para as aves marinhas.

 

Argyropelecus aculeatus

Fotografia cedida por Paulo Manes

Afinal este peixe não é assim tão estranho!
:-)
 

Referências:



Agradeço aos Professores João Gonçalves, Filipe Porteiro, pela ajuda na identificação dos exemplares e a Paulo Manes, e Gilberto Machado pela cedência das fotografias.
Carlos André Fonseca

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Vinagreira, uma lesma flutuante


            A Aplysia fasciata, conhecida vulgarmente como vinagreira-negra, lebre-do-mar ou lesma do mar, é um gastrópode da família Aplysiidae. Estes gastrópodes deslocam-se sobre os fundos marinhos mas podem, também, ser vistos a nadar à superfície. Podemos encontrá-los nas águas superficiais até aos 25 m de profundidade. É uma espécie herbívora e não é vulgar aparecer nas águas açorianas contudo, nos últimos tempos têm dado à costa do Faial bastantes exemplares desta espécie.

            Em 2003 foram avistados vários exemplares desta espécie durante o mês de Junho. O primeiro avistamento realizado pelo Prof. Dr. João Gonçalves e pelo colega Gilberto ocorreu a 4 de Junho pelas 16h, Feteira. Numa faixa com cerca de 2 m de largura e 125 m de comprimento, observaram cerca de 200 exemplares de vinagreiras onde cerca de metade se encontravam mortas e secas no areal, outras estavam moribundas e, existiam ainda exemplares vivos. Para além dos exemplares foram, também, observadas 5 posturas destes animais.

            O segundo avistamento realizado pelo Prof. Dr. João Gonçalves e por um colega ocorreu a 5 de Junho pelas 9:30h nas Poças da Rainha, Feteira. Na primeira poça, avistaram 59 vinagreiras mortas, 91 vivas, 16 posturas e 18 molhos reprodutores com 3 a 4 indivíduos. Na segunda poça avistaram 80 vinagreiras mortas e 12 vivas na parte de cima da poça e, na parte mais funda da poça com ligação ao mar foram avistadas 15 vinagreiras vivas. Na terceira poça avistaram 96 vinagreiras mortas e outras 30 vivas. Na quarta poça, avistaram 11 exemplares desta espécie mortas e 43 vivas, muitas das vivas estavam agrupadas nas fissuras dos blocos que constituíam a poça. Na quinta poça, mais pequena que as anteriores, encontraram 37 vinagreiras mortas e a cheirar a podre e mais 4 moribundas. Numa sexta poça, meia seca, foram avistadas 49 vinagreiras mortas e 9 moribundas. Na sétima poça foram encontrados 51 exemplares mortos e 1 moribundo, tanto as mortas como a moribunda cheiravam a podre. Neste dia foram recolhidas várias vinagreiras para um balde de 12 L para depois serem pesadas e medidas nos laboratórios do DOP. Nos laboratórios do DOP foram medidas e pesadas 33 vinagreiras, o comprimento médio dos 33 exemplares foi de 17,65 cm enquanto que o seu peso húmido médio foi de 316,36 g.

            A 9 de Junho pelas 16h o Prof. Dr. João Gonçalves e o colega Victor Rosa avistaram, novamente, mais exemplares destes animais Neste dia os avistamentos ocorreram no porto da Feteira, onde foram observados cerca de 50 indivíduos desta espécie mortos e mais de uma dezena de posturas misturadas com sargaço. Na praia a este do porto, também, existiam vários cadáveres de vinagreiras. Neste dia encontraram, também, vinagreiras nas poças da Feteira onde se pude ver vários cadáveres e algumas vinagreiras vivas e a nadarem, apesar da maioria se encontrarem mortas. No entanto, no dia 9 de Junho existiam bem menos vinagreiras nas poças de Feteira que no dia 5 de Junho.

            Em 2009, no dia 13 de Março foi encontrada uma vinagreira junto aos barcos que fazem a travessia para o Pico. A vinagreira foi apanhada por um funcionário da Transmaçor e levada para os laboratórios do DOP para ser identificada e pesada. Esta foi identificada como sendo uma Aplysia fasciata e o seu peso fresco era de 1388,3 g, sendo o exemplar depois devolvido ao mar. Durante a sua devolução ao mar, a vinagreira libertou tinta de cor púrpura.

 

Algumas curiosidades sobre esta espécie…

- As vinagreiras alimentam-se de qualquer tipo de algas;

            - Os exemplares juvenis apresentam uma coloração avermelhada. Já os adultos têm uma coloração que varia desde o verde ao castanho, sendo por vezes avermelhada ou negro-violeta;

            - São indivíduos que podem atingir os 40 cm de comprimento e pesar cerca de 2 Kg;

            - O nome comum deriva do líquido púrpura que lançam quando se sentem ameaçadas. Esta substância não é venenosa;

            - Os adultos são muitas vezes observados durante a Primavera pois esta é a época de acasalamento, no Verão os adultos chegam mesmo a formar aglomerações de vários indivíduos para acasalamento. Os juvenis são só observados por volta do Outono;

            - O corpo é mole e apresenta um grande pé e duas expansões globulares, também conhecidos como parapódios;

            - Os parapódios são utilizados como barbatanas quando estes animais nadam;

            - As vinagreiras são animais que podem ser encontrados em zonas de águas salobras e estuários, no ambiente marinho pelágico costeiro, em recifes de coral e costas rochosas;

            - As vinagreiras assemelham-se muito, em aparência, às lesmas e por vezes, também, são conhecidas como lesmas do mar. São as únicas lesmas que conseguem nadar.

 

Referências





Joana Botelho

A Nadine, os Açores e um caranguejo!

No dia 19 de Setembro de 2012, durante um passeio na praia de Porto Pim, enquanto a tempestade tropical Nadine deu breves minutos de tréguas, uma estudante do mestrado de Estudos Integrados dos Oceanos, Michelle Branã encontrou no areal uma espécie invulgar de caranguejo. O Albunea carabus, também conhecido por caranguejo-da-areia, é um crustáceo pouco avistado nas águas dos Açores. A sua presença é predominante do Oceano Atlântico-Este e do Mar Mediterrâneo, havendo também alguns avistamentos na costa de países africanos. A predileção destes invertebrados por ambientes sedimentares, caracterizados por elevado hidrodinamismo e turbidez, estará associada à sua distribuição e aos seus hábitos alimentares e comportamentais. O caranguejo-da-areia é um organismo bentónico que se enterra na areia e alimenta-se de matéria orgânica em suspensão na água e pode ser encontrado entre os 3 m e os 40 m de profundidade. As suas larvas superam 5 estágios de desenvolvimento planctónico (“zoea instar”), que é caracterizado pelo uso de apêndices torácicos para natação, antes de alcançar o estado juvenil. Estes animais necessitam de se libertar das suas carapaças de maneira a poderem aumentar o seu tamanho, num processo denominado por mudas. Tipicamente, este caranguejo possui o corpo segmentado com um par de apêndices em cada segmento, uma carapaça quitinosa quadrangular, com uma depressão côncava na zona posterior, pernas achatadas para escavar a areia e um par de antenas muito desenvolvidas.


O espécime encontrado pesava 14,5 g , tinha um comprimento total de 14,5 cm e a largura da carapaça era de 24,7 mm. Provavelmente era uma fêmea não ovada.


Mais recentemente, no mês de Novembro, um outro estudante do curso CET OpMar, Jonathan Biddle, encontrou também ele, na praia de Porto Pim, 3 animais desta mesma espécie, numa semana em que os Açores foi fustigado pelo estado do tempo com ventos fortes e agitação marítima. Tal poderá indiciar que a presença destes animais na costa dos Açores poderá estar associada a condições climatéricas particulares, nomeadamente ventos fortes e elevada agitação marítima, como as evidenciadas durante os dias em que foram encontrados os animais já mencionados.


Comprimento da carapaça (mm): 20,8
Comprimento máximo da carapaça,medida do lado esquerdo (mm): 27,2
Largura da carapaça (mm): 24,7
Comprimento total sem antenas, com abdómen estendido (mm): 51
Comprimento total com antenas, com abdómen estendido (cm): 14
Peso fresco (g): 14,5

O Albunea carabus foi pela primeira vez descrito no ano de 1758 por Carl Linneaus na 10º edição do Systema Naturae. é um crustáceo pertencente à ordem dos decápodes. Pertence a uma família de caranguejos com mais de 50 espécies identificadas e 9 espécies já extintas e que têm como principal característica a capacidade de se soterrarem na areia, criando um espaço apropriado para se abrigarem.



Mais informações:
Publicado por: Gonçalo Figueira