quinta-feira, 25 de julho de 2013

Planária-carpete: uma falsa lesma do mar!

Evento:

No passado domingo (21/07/2013), o Sr Daniel Rafael viu no fundo da piscina grande (semi-natural) do Varadouro (Faial), este pequeno e curioso animal a andar rapidamente sobre o fundo de areia escura na zona mais funda da piscina (~2,5 m profundidade). Na passada terça-feira (23/07/2013), voltou a encontrá-lo e trouxe-o em água salgada para o DOP no início da tarde do dia seguinte para obter mais informações sobre o animal.  

Vista ventral da planária-carpete visível
ao nadar de "barriga para o ar".
Tamanho relativo e vista dorsal da planária-carpete.

Planária-carpete de regresso à sua piscina natural




Identificação e observações:
Como o animal estava em boas condições tiraram-se algumas fotografias. O animal foi devolvido à piscina do Varadouro no final do mesmo dia. 
Trata-se um verme plano ("flat worm"), da Classe dos Turbelários ou planárias, um subgrupo do Filo Platelmintas, muito provavelmente um indivíduo, com ca. 3 cm de comprimento, da espécie Thysanozoon brochii, que poderemos designar em português por planária-carpete, à semelhança do inglês "Carpet flatworm", dado que as papilas dorsais do animal se assemelham à textura de cima das carpetes/alcatifas.
Apesar do seu pequeno tamanho, deslocam-se sobre o fundo rapidamente (cerca de 15 cm por minuto, correspondendo a ~5 unidades corporais por minuto) (dados registados durante 2 percursos feitos pelo animal na caixa onde foi fotografado, comprimento 16 cm feito em 70 seg e largura de 12 cm em 40 seg.). São também capazes de nadar através de ondulações rápidas das margens laterais do corpo, invertendo a posição que têm quando andam no fundo (dorso para cima), ficando com o ventre para cima (ver video). 

      
Curiosidades:
As planárias são geralmente animais carnívoros e/ou necrófagos de pequeno tamanho e de vida livre, que habitam ambientes húmidos terrestres, as águas doces, mas também há espécies marinhas, como é o caso desta. Têm a curiosidade de ter o sistema digestivo incompleto, tendo só boca e cavidade gástrica, não havendo ânus. Apesar do sistema nervoso ser pouco desenvolvido apresentam pelo menos um par de ocelos dorsais e frontais, que são órgãos sensíveis à luz ("olhos primitivos"), e muitas espécies formam com a margem anterior do corpo, um par de pseudo-tentáculos sensoriais, que se assemelham aos tentáculos sensoriais e rinóforos das lesmas-do-mar (moluscos nudibrânquios). Por esta razão, e também pelas cores vivas que muitas espécies apresentam, podem ser facilmente confundidos, embora as últimas sejam geralmente maiores, mais encorpadas e se desloquem mais lentamente.     

Ocorrências anteriores e distribuição geográfica:
Não há muita informação sobre a ocorrência de planárias marinhas nos Açores. A espécie agora observada, T. brochii, é referida para as poças subtidais dos Açores (poça de Santa Cruz das Flores?), por Morton et al. (1998). Outras espécies de planárias marinhas foram também fotografadas nos Açores (Planocera graffi e Prosthoceraeus giesbrechti) (ver Plathelminthes em Lista Espécies de www.intradop.info). 
T. brochii está referenciada para o território continental (Ferreira, 2011), e tem uma ampla distribuição geográfica: Atlântico Norte (costas europeias, Mar do Norte; costa do México), costa da África do Sul  da Nova Zelândia. 

Para saber mais:
- EoL
- ECSD
ITIS
Wikipedia
WORMS

Referências:
- Ferreira, V.M.P. (2011). Guia de Campo - Fauna e Flora Marinha de Portugal. Ed. PlanetaVivo, Lda. Leça da Palmeira, Portugal, 265 pp.   
- IntraDOP (Lista de Espécies Marinhas dos Açores: www.intradop.info).
- Morton, B., Britton J. C., A. F. Martins A. M.F. (1998). Ecologia Costeira dos Açores. Sociedade   Afonso Chaves, Ponta Delgada. 249 pp.