sexta-feira, 3 de julho de 2015

Planária-malhada: nova espécie marinha para os Açores!

O mergulho noturno feito 23/05/2007 nas piscinas semi-naturais do Varadouro (Faial), de baixa profundidade (1,5-2 m), pelos biólogos Peter Wirtz e Marco Aurélio Santos, pode ser considerado como um caso invulgar em termos de ocorrências de novas espécies marinhas. Muitas das fotos tiradas nessa noite pelo último fotógrafo, estiveram sem ser identificadas e só no mês passado é que se deu atenção a estas imagens. Para além do poliqueta-verde-de-remos referido no “post” anterior (06 /06/2015) foi fotografado um outro invertebrado que à primeira vista parecia ser um colorido nudibrânquio achatado, mas trata-se de facto da planária marinha Prostheceraeus moseleyi (foto 1 e 2), que em inglês se designa por “spotted flat-worm”.  

Foto 1 - Planária-malhada fotografada na piscina semi-natural do Varadouro (Faial) em 23/05/2007 por Marco Aurélio Santos.  

Foto 2 - A mesma planária-malhada notando-se os característicos tentáculos púrpura. Foto de Marco Aurélio Santos, 

Características distintivas

As planárias-malhadas (Prostheceraeus moseleyi) identificam-se pelo facto de terem o corpo de forma oval, parte dorsal lisa, rodeada por uma fina faixa amarela, pintalgado com inúmeros pequenos pontos pretos, e com tentáculos marginais de cor púrpura. A cor de fundo é geralmente branca, amarelada, alaranjada ou rosada, mas pode ter coloração violeta como é o caso desta ocorrência. Podem chegar aos 4 cm de comprimento.

Distribuição e biologia:

As planárias-malhadas distribuem-se da costa europeia, incluindo Portugal (Berlengas, Sesimbra) e Espanha, ao Mediterrâneo.
Vivem até aos 5-10 m de profundidade, podendo eventualmente chegar aos 30 m, em fundos rochosos e alimentam-se de outros invertebrados, caso de ascídias, principalmente de Clavelina. Como característica do grupo o sistema digestivo é incompleto (não têm ânus).
São espécies hermafroditas, com fecundação cruzada simultânea entre dois indivíduos. Perfuram-se mutuamente com um estilete que têm na extremidade do pénis, libertando os espermatozóides que fecundam os óvulos que estão no interior do corpo (não têm cavidade vaginal). Depositam os ovos sobre o fundo (rocha, algas) dando origem na maioria das espécies a juvenis bentónicos semelhantes aos adultos, mas há algumas espécies que produzem larvas pelágicas.

Considerações finais

As planárias-malhadas (Prostheceraeus moseleyi) não estão formalmente referenciadas na biodiversidade marinha dos Açores. Há um registo anterior feito por P. Wirtz nos Açores1, mas os dados referentes a esta fotografia (data e local) não se conseguiram encontrar. Há uma foto semelhante à atual tirada também por este fotógrafo e constante de um guia de invertebrados2, identificada como Erylepta cornuta, mas que de facto é P. moseley.
Curiosamente, no mesmo local onde esta espécie foi agora encontrada, tinha sido apanhada, uma planária-carpete há praticamente 2 anos atrás (Thysanozoon brochii - ver “post” de 25/07/2013). Assim, passam a ser conhecidas cinco espécies neste grupo taxonómico nos Açores, as duas referidas anteriormente, a que se juntam Planocera graffi, Prosthoceraeus giesbrechti (ver Plathelminthes3) e Notoplana sp.2 .

Para saber mais:

EOL 
Wikipedia - Turbellaria

Referências:

2-      Wirtz, P. & H. Debelius (2003). Mediterranean and Atlantic – Invertebrate Guide. From Spain to Turkey – From Norway to the Equator. ConchBooks Ed.  305 pp. (p. 86)

Agradecimentos:


Aos investigadores Peter Wirtz e Juliana Bahia pela troca de informações que possibilitaram a identificação da espécie. Ao Marco Aurélio Santos, atualmente técnico superior na DRAM, por disponibilizar as fotos e os dados desta ocorrência.