No passado mês de janeiro foi apanhada uma enorme lula-mansa (Loligo forbesii) na ilha do Pico com pouco mais de 9 kg de peso. Apesar de a lula-mansa dos Açores atingir maiores dimensões que as suas congéneres continentais, esta lula em particular, tinha dimensões apreciáveis.
Ocorrência:
No passado dia 24 de
Janeiro de 2014 este exemplar (Fig. 1) foi observado à venda no hipermercado na Madalena, na ilha do Pico. Tratava-se de um indivíduo de
dimensões fora do comum. Tirou-se uma fotografia para a sua posterior análise.
Este indivíduo foi rapidamente identificado como Loligo forbesii
(lula-mansa), devido às suas típicas riscas na parte anterior do manto. Este exemplar é de certeza um macho,
dado que na espécie local estes são muito maiores do que as fêmeas.
Este exemplar foi capturado pelo Mestre Francisco José Bettencourt, fora de
São João do Pico à profundidade aproximada de 165 m, com uma toneira comercial
de duas coroas.
Esta lula tinha um peso em fresco (húmido) de 9,015
kg. O comprimento do animal foi calculado através da fotografia (Fig. 1), para
isso recorreu-se ao software gráfico
“Arc Gis”. Como escala, foi utilizado a distância interna de bordo a bordo da bancada (98,5 cm). Efectuaram-se duas medições da
qual resultou uma média de 99,83 cm param o comprimento dorsal do
manto.
Figura 1 – Exemplar de Loligo forbesii fotografado na peixaria do hipermercado da Madalena do Pico. |
Casos
Anteriores:
Ao compararmos estes
valores com os valores máximos registados para o comprimento e peso desta
espécie, 93,7 cm[i] e
6,230 kg[ii],
respectivamente, verificamos que estamos perante um novo recorde. É verdade que
há testemunhos de lulas-mansas de maiores dimensões, mas não existe nenhum registo que
o possa comprovar.
Pesca:
Nos
Açores a Loligo forbesii ou
lula-mansa, como é vulgarmente conhecida, é uma
fonte importante de rendimento dos pescadores quando as quotas dos peixes de
fundo são atingidas. Inicialmente esta pesca alimentava
apenas os mercados locais mas posteriormente deu-se a abertura
para o mercado continental. A pesca de lula-mansa nos Açores
tem uma longa tradição, embora não se saiba a sua origem. A pesca é praticada
em todas as ilhas do Arquipélago dos Açores e realiza-se normalmente durante o
dia. Para a sua captura utiliza-se várias artes de pesca, sendo a mais comum a toneira (Fig. 2),
que consiste numa amostra com uma ou duas coroas de agulhas virados para cima.
Ao produzir-se movimentos verticais, o chamado de “jigging”, a lula é atraída. Ao
atacar a amostra a lula fica presa pelos tentáculos nas agulhas e por vezes
pelos braços também.
Figura
2 - Exemplo de toneira utilizada na faina da lula
Curiosidades:
À semelhança dos
outros cefalópodes, possuem simetria bilateral, olhos bem desenvolvidos, a boca é redonda com um par de
poderosas mandíbulas móveis, em forma de "bico de papagaio", que podem cortar e
rasgar a presa. Possuem 8 braços e 2 tentáculos
que utilizam para
capturar alimento. A pele contém células pigmentadas, chamadas cromatóforos, que
mudam de cor para efeitos de comunicação e camuflagem. Graças ao
seu sistema nervoso extremamente desenvolvido estes animais maravilham-nos com uma
multidão de cores e padrões. São animais carnívoros, alimentando-se
principalmente de pequenos peixes, na sua dieta também consta crustáceos e outros
invertebrados, e como acontece nas outras lulas, esta também exerce canibalismo.
A sua distribuição geográfica abrange o Atlântico Nordeste, Mar Mediterrâneo e Mar Vermelho,
a costa Este de África e tem como fronteira Oeste os Açores. Esta espécie
possui dimorfismo sexual, sendo os machos de maiores dimensões que as fêmeas, atingem
a sua maturidade sexual com cerca de um ano de vida e possuem uma longevidade
pequena, entre 1-2 anos, podendo atingir os 3 anos de idade.
A população desta espécie dos Açores está também geneticamente
diferenciada da população continental europeia, e por isso há quem
considere que possa ser uma sub-espécie.
Agradecimentos:
Um agradecimento especial ao Doutor
Professor João Gonçalves pela ajuda a estabelecer contactos e pelo fornecimento
de informação.
Queria agradecer também ao Sr. Rui Pires
da peixaria do “Compre Bem” da Madalena, pelo fornecimento de dados e ao mestre
Francisco José Bettencourt pela disponibilidade para responder às questões
colocadas.
Para saber
mais:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lula-mansa
[i]
Porteiro, F.M.; Martins, H.R. 1994. Biology
of Loligo forbesii Steenstrup, 1856 (Mollusca: Cephalopoda) in the Azores:
sample composition and maturation of squid caught by jigging. Fisheries
Research. 21: 103-114.
[ii] Martins,
H.R. 1982. Biological studies of the exploited stock of Loligo forbesii
(Mollusca: Cephalopoda) in the Azores. Journal of the Marine Biological
Association of the United Kingdom, 62: 799-808.
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