O título anterior está relacionado com o consumo de um
grupo particular de peixes marinhos: os escolares. Vejamos então!
Ocorrência:
Um
peixe-escolar apareceu à venda em 21-02-2014 na peixaria de um hipermercado da
Madalena (da ilha do Pico). Como se tratava de um peixe um pouco diferente dos
habituais escolares, foi observado com mais atenção. De facto, tratava-se de um
peixe coelho-do-alto (foto 1), também conhecido como escolar-branco ou
peixe-coelho (Promethichthys prometheus), com 3,9 kg de peso, que tinha sido apanhado
na aurora desse dia pelos Srs Daniel e Bruno Freitas, a cerca de 130 braças de
profundidade (~ 240 m), quando pescavam de gorazeira no Baixio da ponta este da
Ilha do Pico (~3 milhas náuticas da costa). Este exemplar tinha 87,7 cm de comprimento
standard (SL) e 93,6 cm de comprimento total, tratando-se de um exemplar de
considerável dimensão para esta espécie, que pode chegar a ter 1 m de SL1.
A contagem dos raios das barbatanas (ver tabela) integra-se nos limites
indicados para esta espécie.
Foto 1- Peixe coelho-do-alto (Promethichthys prometheus) com 87,7 cm (SL) e 3,9 kg de peso apanhado em 21/04/2014 na ponta este da ilha do Pico (Açores). |
Tabela
Contagem dos
raios na barbatanas do peixe-coelho apanhado a 21/02/2014 na ponta este da ilha do
Pico (Açores).
1º dorsal
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2ª dorsal
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Anal
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Peitorais
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Raios duros
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18
|
2
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2
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0
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Raios moles
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0
|
18
|
15
|
14
|
Por
observação das gónadas verificou-se que era uma fêmea, em estado de repouso
reprodutivo – pós-postura (foto 2). No estômago só se encontrou o isco (pedaço
de peixe espada branco). Verificou-se que as escamas apesar de visíveis não são
facilmente destacáveis parecendo estar cobertas por uma membrana transparente.
Registos anteriores:
A ocorrência
do peixe coelho-do-alto nos Açores está registada, pelo menos desde 19542, tendo o nome geral de escolar-branco para português3. Em inglês
é designado por roudi escolar1, e chega a ter nomes mais populares de
“butterfish”, “super white tuna”, “king tuna”, “oilfish” ou ainda como “white
escolar”.
É uma espécie
cosmopolita demersal que ocorre em todos os oceanos do mundo entre os 80 e 800
m de profundidade (meso-bentopelágico), em zonas temperadas e tropicais.
Ocorrem nos
Açores mais 4 espécies de peixes conhecidos pelo nome comum de escolares: Ruvettus pretiosus; Lepidocybium flavobrunneum; Nesiarchus nasutus, e Gempylus serpens. Algumas destas
espécies atingem tamanhos bastante maiores ao do coelho-do-alto.
Curiosidades:
Apesar do
peixe coelho-do-alto ser comestível é preciso ter cuidado com o seu consumo. É
um peixe gordo, extremamente delicioso quando grelhado, pelo que há a tentação
de comer demais! O pior vem depois. Como o conteúdo oleoso advém de
estéres-cerosos, que o peixe adquire das suas presa e não consegue metabolizar,
acaba por as acumular no seu corpo (cerca de 23% do total). No homem estas
substâncias não são absorvidas e acabam por provocar diarreias oleosas alaranjadas,
que passam praticamente despercebidas, muitas vezes em ocasiões pouco convenientes.
Este tipo de diarreia oleosa derivada do consumo destes peixes tem mesmo uma
designação específica: queriorreia. Em vários países, este peixe foi considerado
tóxico, em resultado destas consequências desagradáveis. Por outro lado, as
substâncias cerosas são consideradas como gempilotoxinas, que se assemelham a
óleos minerais, mas não são realmente toxinas.
Contudo, caso
não se consuma com frequência, não mais de ~120 g de cada vez, e esteja bem
grelhado para libertar grande parte da gordura, que não deve ser consumida,
acaba por não trazer consequências de maior. De qualquer forma, o peixe coelho
do alto parece ser “menos perigoso” em termos alimentares que outras espécies
de escolares.
Agradecimentos:
Aos Sr Daniel Freitas e Bruno Freitas pelas informações
dadas relativas à pesca deste peixe. Igualmente se agradece ao Sr. Rui Pires, gerente da peixaria do
hipermercado “Compre-Bem”, que
amavelmente localizou a embarcação que tinha pescado este exemplar. Um agradecimento também à Dra Angêla Canha do DOP por ter analisado o estado de maturação das gónadas.
Referências:
- Fishbase: www.fishbase.org/summary/5008
- Santos, R.S., F.M. Porteiro & J.P. Barreiros, 1997. Marine fishes of the Azores: annotated checklist and bibliography. Bulletin of the University of Azores. Supplement 1. 244 p.
- Sanches, J.G., 1989. Nomenclatura Portuguesa de organismos aquáticos (proposta para normalizaçao estatística). Publicaçoes avulsas do I.N.I.P. No. 14. 322 p.
Para saber mais:
Sou natural da Madeira e comerciante de peixe, nós aqui na Madeira damos o nome a esse peixe, Coelho da Natura é pescado em alto mar junto com o peixe Espada, ao longo dos anos já vendi alguns peixes Coelho e já ouvi alguns clientes comentarem os efeitos negativos causados ao nível dos intestinos, é uma reacção que não causa dor.quando a pessoa se apercebe já está toda suja.a quem diga que a melhor maneira de consumir o peixe coelho é salprezado.eu pessoalmente nunca comi
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