quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Maré “vermelha” na Lagoa St. Cristo – S. Jorge!

No passado dia 2 de setembro ocorreu uma maré vermelha na Lagoa de St. Cristo. O evento (Fig. 1) foi registado pelos serviços do Parque Natural da Ilha de S. Jorge (PNISJ – biólogo Rui Sequeira), depois de ter sido alertado do fenómeno por moradores locais. Para além da coloração anormal da água, que neste caso era mais amarelada do que propriamente vermelha, ocorreu também mortalidade de peixes, sobretudo de tainhas (Chelon labrosus).

Fig. 1 - Fotografia da Lagoa da Fajã de St Cristo no dia 2/9/2013, podendo-se ver a mancha amarelada-acastanhada na água. Autor: Rui Sequeira - PNISJ.

Dada a invulgaridade deste tipo de fenómenos nos Açores, o PNISJ procedeu à recolha de amostras de água e de peixes mortos. Inicialmente estas amostras foram enviadas para o DOP onde se constatou a presença de pequenos dinoflagelados nas amostras de água. Aqui as amostras foram preservadas e enviadas posteriormente para Lisboa (Vanda Carmo), para o laboratório marinho do IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera), onde as biólogas Mariana Santos e Teresa Moita, especialistas em microalgas, acabaram por identificar e quantificar o agente causador desta maré. Tratou-se do dinoflagelado Alexandrium minutum (Fig. 2), que ocorreu em grande concentração nas amostras recolhidas (1,26 x 10celulas.L-1 ). Tanto quanto se sabe trata-se da primeira maré vermelha registada nos Açores.
Informado do potencial tóxico desta espécie o Governo Regional dos Açores (Secretaria Regional dos Recursos Naturais), decretou a proibição temporária do consumo de amêijoas na Lagoa de St. Cristo (Portaria nº 68/2013).

Fig. 2 - Fotografia ao miscroscópico ótico do dinoflagelado Alexandrim minutum. Autor: Mariana Santos - IPMA.

Consequências:
Posteriormente soube-se que houve alguns casos de queixas registadas na Unidade de Saúde de S. Jorge, associados a este fenómeno, provavelmente originados pela toxina PSP (“Paralytic Shellfish Poisoning) que este dinoflagelado produz quando ocorre em grandes concentrações. As pessoas afetadas tinham consumido as famosas amêijoas da lagoa de St. Cristo (Venerupis decussata) ou simplesmente ingerido água acidentalmente durante os banhos na lagoa. Apresentaram sintomas de dormência dos membros e tonturas, que se prolongou por alguns dias.
O fenómeno que tinha evoluído durante os dias quentes de final de agosto e sem grandes ventos, acabou por dissipar-se de forma natural nos dias seguintes, assim que as condições de meteorológicas se modificaram.

Ocorrências:
Esta espécie de dinoflagelado ocorre naturalmente na zona costeira de vários mares (Mediterrâneo, Mar Adriático) e oceanos (Atlântico Norte, Sul, Índico e Pacífico), incluindo a costa continental portuguesa. Quando ocorre em grandes concentrações tem provocado marés vermelhas tóxicas em várias zonas  do mundo (sul da Austrália, Nova Zelândia, Taiwan; França - Mediterrâneo). 

Considerações finais:

A divulgação científica desta ocorrência invulgar nos Açores será feita através de uma comunicação no XII Reunión Ibérica sobre Microalgas Nocivas e Biotoxinas” que vai decorrer nos dias 17 e 18 do corrente mês, em Palma de Maiorca.

Para saber mais:
- Alexandrium minutum - Marine Species Identification Portal;
- Anderson, M., 1998. NATO ASI Series, 41: 29-48.


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