No passado dia 2 de setembro ocorreu uma maré vermelha na Lagoa de St. Cristo. O evento (Fig. 1) foi
registado pelos serviços do Parque Natural da Ilha de S. Jorge (PNISJ – biólogo
Rui Sequeira), depois de ter sido alertado do fenómeno por moradores locais.
Para além da coloração anormal da água, que neste caso era mais amarelada do
que propriamente vermelha, ocorreu também mortalidade de peixes, sobretudo de
tainhas (Chelon labrosus).
Fig. 1 - Fotografia da Lagoa da Fajã de St Cristo no dia 2/9/2013, podendo-se ver a mancha amarelada-acastanhada na água. Autor: Rui Sequeira - PNISJ. |
Dada a invulgaridade deste tipo de
fenómenos nos Açores, o PNISJ procedeu à recolha de amostras de água e de
peixes mortos. Inicialmente estas amostras foram enviadas para o DOP onde se
constatou a presença de pequenos dinoflagelados nas amostras de água. Aqui as amostras
foram preservadas e enviadas posteriormente para Lisboa (Vanda Carmo), para o laboratório marinho do IPMA (Instituto Português do Mar e
da Atmosfera), onde as biólogas Mariana Santos e Teresa Moita, especialistas em microalgas, acabaram por
identificar e quantificar o agente causador desta maré. Tratou-se do dinoflagelado Alexandrium minutum (Fig. 2), que ocorreu em grande concentração nas amostras recolhidas (1,26 x 107 celulas.L-1 ). Tanto
quanto se sabe trata-se da primeira maré vermelha registada nos Açores.
Informado do potencial tóxico
desta espécie o Governo Regional dos Açores (Secretaria Regional dos Recursos Naturais), decretou a proibição temporária do consumo de amêijoas na Lagoa de
St. Cristo (Portaria nº 68/2013).
Fig. 2 - Fotografia ao miscroscópico ótico do dinoflagelado Alexandrim minutum. Autor: Mariana Santos - IPMA. |
Consequências:
Posteriormente soube-se que houve alguns casos de queixas registadas na Unidade de Saúde de S. Jorge,
associados a este fenómeno, provavelmente originados pela toxina PSP (“Paralytic Shellfish Poisoning”)
que este dinoflagelado produz quando ocorre em grandes concentrações. As
pessoas afetadas tinham consumido as famosas amêijoas da lagoa de St. Cristo (Venerupis decussata) ou simplesmente
ingerido água acidentalmente durante os banhos na lagoa. Apresentaram sintomas
de dormência dos membros e tonturas, que se prolongou por alguns dias.
O fenómeno que tinha
evoluído durante os dias
quentes de final de agosto e sem grandes ventos, acabou por dissipar-se de forma natural nos dias
seguintes, assim que as condições de meteorológicas se modificaram.
Ocorrências:
Considerações finais:
A divulgação científica desta ocorrência
invulgar nos Açores será feita através de uma comunicação no XII Reunión Ibérica
sobre Microalgas Nocivas e Biotoxinas” que vai decorrer nos dias 17 e 18 do
corrente mês, em Palma de Maiorca.
Para saber mais:
- Alexandrium minutum - Marine Species Identification Portal;
- Anderson, M., 1998. NATO ASI Series, 41: 29-48.
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