Um peixe rei-dos arenques foi apanhado vivo (Foto 1), utilizando um
camaroeiro, no dia 16 de abril de 2014, por Miguel Carvão. O peixe
encontrava-se desorientado à superfície dentro da marina da Horta perto do edifício
do Clube Naval. Após a captura foi transportado para o aquário de
Porto Pim, onde acabou por não sobreviver, sendo entregue para a coleção
biológica do DOP-UAç.
A identificação deste peixe acabou por se revelar uma tarefa difícil.
Dados do exemplar:
Este exemplar era um juvenil
com 18,8 cm de comprimento furcal e 26,7 cm de comprimento total (incluindo o
comprimento da barbatana caudal) e com aproximadamente 22 g de peso húmido. O
eixo longitudinal do corpo é horizontal (sem curvatura). A zona mais alta do
corpo situa-se na zona frontal (primeiro quarto) e o ânus situa-se pouco atrás
da linha mediana do corpo. A coloração do corpo é prateada com manchas negras
nos flancos, três na zona dorsal e uma na zona ventral (Foto 2). As barbatanas
são finas e rosadas, tendo a dorsal 133 raios, embora pudessem haver mais
alguns que se degradaram e não puderam ser contados.
A forma peculiar do corpo e
das barbatanas do rei-dos arenques permitiu classificá-lo como pertencente à
Familia Trachipteridae e ao género Trachipterus.
Foto 1 – O rei-dos-arenques dentro do recipiente de transporte.
Ocorrências
anteriores:
Nos Açores é conhecida uma
espécie de rei-dos-arenques, Trachipterus
trachypterus (Whitehead, 1986;
Santos et al, 2001; Borges et al, 2010). Contudo, na zona este do Atlântico Norte, ocorre outra espécie bastante
semelhante, T. arcticus (Figueiredo et al., 2007).
Na coleção de referência biológica do DOP-UAc há um exemplar
juvenil de T. articus, ligeiramente maior (ref. DOP-3807 – coluna com
100 vértebras), mas com características morfológicas idênticas à do indivíduo
mais recente. Assim, pelas evidências recolhidas o novo indivíduo integra-se
também na espécie T. articus.
Foto 2- Rei-dos-arenques
apanhado em 16-04-2014.
Curiosidades:
Os reis-dos-arenques têm um corpo muito estreito e longo, que nos
exemplares adultos pode chegar aos 3 m de comprimento. Assemelham-se muito a
outros peixes muito longos, como o Regalecus
glesne que pode chegar aos 7 m de comprimento, e pensa estarem na origem
das antigas descrições de serpentes marinhas gigantes.
Apesar do seu tamanho estas espécies não têm interesse económico.
Biologia:
Os reis-dos-arenques são
peixes pelágicos que vivem no oceano aberto, longe das costas e em
profundidades abaixo dos 300 m. Pensa-se que sejam animais solitários mas que
de tempos a tempos formam grandes cardumes, provavelmente para a reprodução, alimentação ou outra razão desconhecida. São caçadores oportunistas que atacam
presas que passem demasiado perto. Apesar dos dentes serem muito pequenos, a
boca é muito extensível e cria um grande poder de sucção, que lhe permite
capturar pequenos peixes e lulas. Não há praticamente informações sobre o seu
ciclo vida, reprodução e comportamento.
Para saber mais:
- Características diagnosticantes dos Trachipterus no AtIântico Norte:
Trachipterus
arcticus: Eixo do corpo direito, possui 150-190 raios na barbatana
dorsal, a altura do corpo (distância entre a margem dorsal e ventral) maior no
primeiro quarto a um terço do corpo (Whitehead, 1986), o ânus situa-se ligeiramente atrás do meio do corpo (Albuquerque, 1956) e apresenta 1-5 pontos
negros que desaparecem nos indivíduos maiores (Whitehead, 1986). O número de
vértebras varia entre 99-102 (Albuquerque, 1956).
Trachipterus
trachypterus: Eixo do corpo curvado para cima na zona posterior da
cauda nos adultos (linear nos juvenis), possui 145-185 raio na barbatana
dorsal, a altura do corpo é maior imediatamente atrás da cabeça (Whitehead,
1986). O ânus encontra-se antes do meio do corpo (Albuquerque, 1956) e
apresenta 1-4 pontos negros ao longo da linha lateral e 1-2 pontos negros na
zona ventral. O número de vértebras varia entre 84-96 (Heemstra &
Kannemeyer, 1984)
Bibliografia:
Albuquerque,
R.M. (1956). Peixes de Portugal e Ilhas
adjacentes. Chaves para a sua determinação. Portugaliae Acta Biológica, 5, 1–1164
Borges,
P. A. V. et al., (Eds.). (2010).
A List of the Terrestrial and Marine Biota from the Azores. Princípia,
Cascais, 432 pp.
Figueiredo,
I. et al. (2007). Identification
of Trachipterus in the north-eastern Atlantic. JMBA2 - Biodiversity Records.
Published on-line.
Heemstra, P. C. & Kannemeyer, S. X.
(1984). The families Trachipteridae and Radiicephalidae (Pisces, Lampriformes)
and a new species of Zu from South Africa. Annals of the South African Museum,
94, 13–39.
Santos, R. S. et al. (2001). Marine Fishes
of the Azores: Annotated checklist and bibliography. Arquipélago
– Life and Marine Sciences. Supplement 1, Universidade dos Açores, Ponta Delgada, 244 pp.
Whitehead, P. J. P. et al., (Eds.). (1985).
Fishes of the North-eastern Atlantic and the Mediterranian. Paris:
UNESCO. 403 pp.
Agradecimentos:
Ao aquário de Porto Pim, nomeadamente, ao seu
representante António Godinho.
Ao Miguel Carvão pela cedência da sua captura.
Ao técnico Rui Gregório do centro de Saúde da Horta que
permitiu fazer a contagem das vértebras.
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