O mergulho noturno feito
23/05/2007 nas piscinas semi-naturais do Varadouro (Faial), de baixa profundidade (1,5-2 m), pelos
biólogos Peter Wirtz e Marco Aurélio Santos, pode ser considerado como um caso invulgar
em termos de ocorrências de novas espécies marinhas. Muitas das fotos tiradas
nessa noite pelo último fotógrafo, estiveram sem ser identificadas e só no mês
passado é que se deu atenção a estas imagens. Para além do
poliqueta-verde-de-remos referido no “post” anterior (06 /06/2015) foi
fotografado um outro invertebrado que à primeira vista parecia ser um colorido
nudibrânquio achatado, mas trata-se de facto da planária marinha Prostheceraeus moseleyi (foto 1 e 2), que
em inglês se designa por “spotted flat-worm”.
Foto 1 - Planária-malhada fotografada na piscina semi-natural do Varadouro (Faial) em 23/05/2007 por Marco Aurélio Santos. |
Foto 2 - A mesma planária-malhada notando-se os característicos tentáculos púrpura. Foto de Marco Aurélio Santos, |
Características distintivas
As planárias-malhadas (Prostheceraeus moseleyi) identificam-se
pelo facto de terem o corpo de forma oval, parte dorsal lisa, rodeada por uma fina
faixa amarela, pintalgado com inúmeros pequenos pontos pretos, e com tentáculos
marginais de cor púrpura. A cor de fundo é geralmente branca, amarelada, alaranjada
ou rosada, mas pode ter coloração violeta como é o caso desta ocorrência. Podem
chegar aos 4 cm de comprimento.
Distribuição e biologia:
As planárias-malhadas
distribuem-se da costa europeia, incluindo Portugal (Berlengas, Sesimbra) e Espanha,
ao Mediterrâneo.
Vivem até aos 5-10 m de
profundidade, podendo eventualmente chegar aos 30 m, em fundos rochosos e
alimentam-se de outros invertebrados, caso de ascídias, principalmente de Clavelina. Como característica do grupo
o sistema digestivo é incompleto (não têm ânus).
São espécies
hermafroditas, com fecundação cruzada simultânea entre dois indivíduos.
Perfuram-se mutuamente com um estilete que têm na extremidade do pénis,
libertando os espermatozóides que fecundam os óvulos que estão no interior do
corpo (não têm cavidade vaginal). Depositam os ovos sobre o fundo (rocha,
algas) dando origem na maioria das espécies a juvenis bentónicos semelhantes
aos adultos, mas há algumas espécies que produzem larvas pelágicas.
Considerações finais
As planárias-malhadas (Prostheceraeus moseleyi) não estão
formalmente referenciadas na biodiversidade marinha dos Açores. Há um registo
anterior feito por P. Wirtz nos Açores1, mas os dados referentes a
esta fotografia (data e local) não se conseguiram encontrar. Há uma foto
semelhante à atual tirada também por este fotógrafo e constante de um guia de invertebrados2,
identificada como Erylepta cornuta,
mas que de facto é P. moseley.
Curiosamente, no mesmo
local onde esta espécie foi agora encontrada, tinha sido apanhada, uma
planária-carpete há praticamente 2 anos atrás (Thysanozoon brochii - ver “post” de 25/07/2013). Assim, passam a
ser conhecidas cinco espécies neste grupo taxonómico nos Açores, as duas
referidas anteriormente, a que se juntam Planocera
graffi, Prosthoceraeus giesbrechti
(ver Plathelminthes3) e Notoplana
sp.2 .
Para saber mais:
Wikipedia - Turbellaria
Referências:
2- Wirtz, P. & H. Debelius (2003). Mediterranean
and Atlantic – Invertebrate Guide. From Spain to Turkey – From Norway to the
Equator. ConchBooks Ed. 305 pp. (p. 86)
Agradecimentos:
Aos investigadores Peter
Wirtz e Juliana Bahia pela troca de informações que possibilitaram a
identificação da espécie. Ao Marco Aurélio Santos, atualmente técnico superior
na DRAM, por disponibilizar as fotos e os dados desta ocorrência.
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