Ocorrência:
A meio da tarde do dia 5 de junho de
2015, mestre José Pedro, da embarcação “Coral da Horta”, quando
estava atracado no molhe principal do porto da Horta, viu o que lhe pareceu ser
um pedaço de plástico por cima de água. Reparou pouco depois que o objeto se movimentava
de forma lenta, percebendo então que se assemelhava a um polvo com os braços
abertos a nadar à superfície, tendo conseguido fotografá-lo com o telemóvel. O animal
conseguiu afundar até tocar no fundo no porto, regressando à superfície pouco
tempo depois, com os braços estendidos e largando tinta. Victor Rosa, da empresa Portos dos Açores, também assistiu ao evento e fotografou o polvo com o telemóvel (Foto 1), tendo comunicado a ocorrência ao Aquário
de Porto Pim (Rui Guedes). Pouco depois o polvo foi apanhado com um camaroeiro
e levado para o Aquário, tendo também sido fotografado. Estimou-se o seu
tamanho em 13 cm de comprimento dorsal do manto e 66 cm de comprimento total
(Foto 2). Numa identificação preliminar, a partir de fotografia, pareceu tratar-se
de uma fêmea pequena de polvo-de-véu púrpura (Tremoctopus violaceus). Sobreviveu apenas durante três dias em cativeiro, durante
os quais nunca se alimentou, tendo sido posteriormente congelado para futura identificação.
Identificação:
O animal foi descongelado no dia 25
de junho de 2015, identificado e medido no DOP. Tinha uma consistência muito
gelatinosa, diferente dos polvos-de-véu púrpura que têm o corpo mais rijo. A
contagem do número de lamelas branquiais (8 a 10) é também inferior à da última
espécie, permitindo identificar o indivíduo como sendo um polvo-de-véu
gelatinoso (Tremoctopus gelatus), com
45 cm de comprimento total, 9,5 cm de comprimento dorsal do manto, e 293 g de
peso (com a congelação estes animais gelatinosos desidratam e encolhem).
O animal foi fotografado (Foto 3), conservado em formol e posteriormente em
álcool, passando a fazer parte da coleção de referência.
Foto 3. Mesmo indivíduo depois de descongelado, podendo-se observar o aspeto gelatinoso típico desta espécie. Foto: Piero Amodio. |
Distribuição e Biologia:
Tremoctopus gelatus foi descrito pela primeira vez em 1977 com base em exemplares encontrados em anos anteriores na Florida1. É uma das 4 espécies de polvos-de-véu que existem a nível mundial. A maior parte das ocorrências está limitada ao Atlântico NW (Florida), havendo também alguns registos esporádicos no Pacífico (Havai) e no Índico (Madagáscar)2.
É uma espécie mesopelágica de oceano aberto, da qual pouco se sabe, suspeitando-se que tenha ampla distribuição mundial por todos os oceanos. As fêmeas podem atingir os 33 cm de comprimento dorsal do manto.
Em todas as espécies de polvos-de-véu os machos são anões comparativamente às fêmeas, raramente ultrapassando os 3 cm de comprimento total.
É uma espécie mesopelágica de oceano aberto, da qual pouco se sabe, suspeitando-se que tenha ampla distribuição mundial por todos os oceanos. As fêmeas podem atingir os 33 cm de comprimento dorsal do manto.
Em todas as espécies de polvos-de-véu os machos são anões comparativamente às fêmeas, raramente ultrapassando os 3 cm de comprimento total.
Considerações finais:
Esta ocorrência constitui o primeiro registo para esta espécie nos Açores e para o Atlântico NE. Muito provavelmente as fotografias do animal vivo são as primeiras que existem a nível mundial.
Curiosamente no dia 10 de julho de 2015 foi avistado outro exemplar de um polvo-de-véu (Tremoctopus sp.) no interior do porto da Horta ao final da tarde pelo investigador Telmo Morato. Contudo, o animal acabou por desaparecer e as fotografias tiradas com telemóvel foram insuficientes para identificar a espécie.
Para Saber Mais:
- IUCN (Tremoctopus gelatus)
- Marine Species Portal (Tremoctopus gelatus)
Agradecimentos:
Aos Srs. José Pedro e Vitor Rosa,
pela comunicação da ocorrência e cedência de fotos. Ao Rui Guedes, Gonçalo
Graça e Telmo Morato pela oferta do exemplar e cedência de fotografias. Ao
Piero Amodio, Sílvio Solleliet-Ferreira e Dominique Stalder que colaboraram na
amostragem laboratorial. Marcos Carreiro fez o processamento das fotografias dos telemóveis.
Referências:
1. Thomas, R.,
1977. Systematics, distribution, and biology of cephalopods of the genus Tremoctopus (Octopoda: Tremoctopodidae).
Bull. Mar. Sci., 27(3): 371-378.
2.
Finn, J.K., 2014. Family Tremoctopodidae. In: P. Jereb et al. (Eds), Cephalopods
of the World. An annotated and illustrated catalogue of cephalopod species
known to date. Volume 3. Octopods and Vampire Squids. FAO Species Catalogue for Fishery Purposes. No. 4, Vol. 3. Rome,
FAO. pp. 240-243.
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